A versatilidade argumental do verbo entregar em língua portuguesa

O estudo de verbos e as relações com seus argumentos é foco de interesse de variadas perspectivas linguísticas que se ocupam da descrição das línguas naturais. Neste artigo, apresentam-se os resultados de uma pesquisa sobre a descrição do verbo entregar, considerando sua manifestação em diversos per...

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Bibliographic Details
Main Authors: Nedja Lima de Lucena, Rayane Pontes Barbalho
Format: Article
Language:English
Published: Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos 2025-05-01
Series:Domínios de Lingu@gem
Subjects:
Online Access:https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/76940
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Description
Summary:O estudo de verbos e as relações com seus argumentos é foco de interesse de variadas perspectivas linguísticas que se ocupam da descrição das línguas naturais. Neste artigo, apresentam-se os resultados de uma pesquisa sobre a descrição do verbo entregar, considerando sua manifestação em diversos períodos da língua portuguesa. Em termos sintáticos, esse verbo é tradicionalmente tomado como ditransitivo, cuja configuração recruta os complementos objeto direto e objeto indireto. Em termos semântico-pragmáticos, sua moldura remete à ideia de transferência de algo para uma entidade. Todavia, amostras empíricas recentes assinalam o uso desse verbo em orações com a elisão parcial ou total dos complementos, sugerindo a ideia de uma transferência metafórica ou mesmo de uma não transferência. Com fundamento teórico e metodológico na Linguística Funcional Centrada no Uso (Furtado da Cunha; Bispo; Silva; 2013; Rosário, 2022), o presente artigo examina, a partir de um prisma pancrônico, amostras coletadas desde o século XIV aos dias atuais, com o intuito de investigar o verbo entregar em dados reais de uso. Para esse quadro teórico, a gramática de uma língua natural é tomada como a representação cognitiva da experiência dos indivíduos com essa língua; logo, o uso linguístico motiva sua estrutura (Bybee, 2016). O recorte de pesquisa aqui adotado é essencialmente qualitativo, com ênfase na descrição e interpretação do material empírico coletado. Os achados sinalizam que, funcional e preferencialmente, o verbo ocorre em orações ditransitivas, com um aumento expressivo, no século XXI, do uso do verbo em orações em que o complemento objeto direto é elidido sem possibilidade de recuperação ou interpretação de um referente.  Além disso, em algumas ocorrências, a noção de transferência de uma entidade para outra é parcial ou totalmente opaca. Observa-se, ainda, que o verbo entregar pode ser recrutado em contextos intransitivos, contrariando a descrição gramatical tradicional. Os resultados dialogam com o pressuposto teórico de que o licenciamento de verbos em determinadas construções abarca a interpretação geral de cenas básicas da nossa experiência, as quais podem ser estendidas e adaptadas para contemplar tipos distintos de situações.
ISSN:1980-5799